O Rio de Justiça de Efraim

Efraim inclinava-se sobre um pergaminho já amarelado, o tinteiro ao seu lado quase vazio. A pena deslizava devagar, reproduzindo com precisão as palavras que Isaías, o profeta, costumava ditar. "Justiça é como um rio; ela deve fluir sem interrupções", dizia um dos ensinamentos que ele copiava com dedicação. O garoto de apenas 16 anos não era conhecido por sua coragem nem por sua voz imponente. Na verdade, Efraim era alguém que preferia observar e ouvir. Porém, dentro dele, ardia uma chama que nem ele entendia completamente: a vontade de espalhar as mensagens de Isaías.

Tudo mudou quando Isaías desapareceu.

A notícia chegou numa manhã abafada, trazida por um viajante ofegante que relatou como o profeta, ao visitar uma vila distante, simplesmente não retornou. Alguns diziam que ele havia sido preso pelos líderes corruptos que tanto criticava. Outros acreditavam que ele fugira para salvar a própria vida. Mas Efraim não acreditava em rumores. Ele precisava de respostas.

Naquela noite, enquanto o vilarejo silenciava sob o céu estrelado, Efraim reuniu seus poucos pertences: a pena, o tinteiro, um pedaço de pão e o pergaminho em que anotava suas reflexões inspiradas em Isaías. Ele não contou a ninguém sobre seu plano. O medo o acompanhava, é claro. "Quem sou eu para fazer isso?", ele pensava. Mas o pensamento de deixar o legado de Isaías se apagar era insuportável. Sem olhar para trás, ele partiu.

A estrada não foi fácil. Em uma das primeiras vilas, Efraim encontrou um homem que ria com escárnio quando ouviu falar de Isaías. “Aquele tolo? Ele achava que podia desafiar os líderes? É perigoso demais seguir os passos dele, garoto.” O homem entregou essas palavras com um olhar de aviso, mas Efraim segurou firme seu pergaminho, ignorando a dúvida crescente em sua mente. "Justiça é como um rio", ele repetia para si mesmo. "Ela deve fluir."

Efraim enfrentou mais do que apenas palavras. Em outro vilarejo, líderes locais exigiram um pedágio exorbitante para que ele pudesse passar. Ele não tinha o suficiente para pagar, mas viu um menino faminto próximo ao portão. Sem hesitar, Efraim deu o pedaço de pão que tinha ao garoto. Para sua surpresa, o menino mostrou um atalho pela floresta, que o levou para fora do vilarejo sem ser visto.

A jornada trouxe desafios maiores. Ele descobriu que nem todos queriam ouvir mensagens de justiça e esperança. Muitos estavam consumidos pelo medo. Outros, pela ganância. Efraim começou a questionar se havia sentido em sua missão. Ele não era Isaías. Ele era apenas um jovem scribe, com mais dúvidas do que certezas.

Mas então, numa noite silenciosa, ele chegou a uma caverna isolada onde, segundo uma mulher gentil, Isaías poderia estar escondido. Ao entrar, encontrou o profeta mais fraco e cansado do que jamais imaginara. Isaías olhou para Efraim com um sorriso débil, mas cheio de orgulho. "Você veio, garoto."

Naquele momento, Efraim percebeu algo importante. Não era sobre ser Isaías ou ter as respostas perfeitas. Era sobre dar o próximo passo, mesmo quando a estrada parecia impossível. Ele ajudou o profeta a voltar ao vilarejo, mas soube que a verdadeira missão estava apenas começando.

De volta à sua mesa, com o tinteiro renovado, Efraim começou a escrever suas próprias palavras. Não era apenas um scribe agora. Era uma voz. E sabia, com toda a certeza, que mesmo as menores ações podiam mudar o mundo.